13 de julho de 2017

Grstação








Dar à luz a Alma. Este um caminho cada vez mais claro no meu percurso humano-profissional. Já li em algum lugar a expressão "trocar de alma" como um quase sinônimo do que estou a dizer. Mas não é a mesma coisa. Não se troca de alma, no meu entender. Penso eu que a Alma precisa nascer. Vir ao mundo. E falo sobre os que possuem Alma. Porque sabemos das carcaças vazias dela, para quem só resta o fim de linha para o corpo e sua absorção pela terra. Mas há uma multidão que precisa engravidar de si mesma e dar à luz a Alma. Não é uma tarefa fácil não. Alguns são fecundados e interropem a gravidez por medo. Outros passam por um "aborto espontâneo", que, na verdade não é assim tão espontâneo. Faltam os cuidados devidos. E faltam por desconhecimento. É preciso que se ajude. Conheço alguém que recentemente engravidou. O Ego fez de tudo para impedir a gestação. A Alma estava ali. Houve muitas lágrimas. No processo, já alguma cura. Mas a gravidez acabou por ser interrompida. A consciência, no entanto, foi ficando mais presente. Sinto-me parteira de Almas em muitos momentos. Inclusive e principalemnte da minha própria Alma. No caso em questão, estive presente tanto quanto pude, todas as vezes em que fui solicitada. Mas, por fim, a gestante admitiu que ainda não estava pronta. Ser mãe de si mesmo exige uma abertura, uma disponibilidade grande. "Não me sinto pronta!", ouvi, depois de tantos meses. E há que se respeitar. Ninguém pode levar uma gravidez adiante em meio a conflitos profundos. Adia-se, como é de direito. Mas, uma vez tendo vivenciado os sinais da gravidez - ainda que se interrompa - , é inevitável o processo. Hoje ainda não, mas amanhã. E registro que os cuidados e sustos e alegrias são os mesmos, numa frequência mais alta, no entanto. Sangramento, repouso, alimentação saudável ( e aqui entendamos "alimentação" como algo que está para além do que se ingere como comida). Não há a preocupação quanto ao "sexo do bebê". Quando nasce uma Alma, o imprevisível de uma fisionomia. Algumas Almas nascem sob o espanto de quem as gerou. Às vezes em nada parece com a mãe. E isso porque a gestante, o gestante, não conhecia seu próprio rosto. Mas podemos falar, sim, em partos naturais, cesarianas e etc. Embora em desuso, muitas Almas chegam ao mundo a fórceps. Mas chegam. E a verdade que, depois de parir, ninguém é mais o mesmo. Com dor ou sem dor, na tempestade ou na calmaria, ter dado luz à Alma faz toda e completa diferença. Começa-se, enfim, a existir. E percebe-se que, antes, o que se chamava de vida era apenas um simulacro. Talvez nem todos possam ver, mas as asas estão ali agora. Quando o parto se dá só no nível biológico, um choro, a respiração. No nível da Alma, o verdadeiro nascimento, um leve ruflar de asas invisíveis. Os caminhos que se apontam são inúmeros e diversos. E é com profunda alegria que entoamos as cantigas de ninar, nos momentos em que ela - a Alma - precisa adormecer por algumas horas. Para acordar sempre Alma. 

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